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Índios passam fome com quentinha estragada na Cúpula dos Povos

17 jun 2012 - 19h19
(atualizado às 21h13)
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André Naddeo
Direto do Rio de Janeiro

Arroz, feijão, carne e macarrão. A quentinha básica de todo o trabalhador deveria ser a fonte de sustento dos mais de mil índios que literalmente invadiram a Cúpula dos Povos, desde a última sexta-feira, no evento paralelo à Rio+20. Só que o almoço deste domingo, para muitos participantes, foi indigesto. Ou simplesmente impraticável. Isso porque as refeições chegaram estragadas até o aterro do Flamengo, deixando os indígenas sem opção de alimentação.

A reportagem do Terra teve acesso a uma das quentinhas distribuídas, e o aspecto era de um alimento fora do prazo de validade
A reportagem do Terra teve acesso a uma das quentinhas distribuídas, e o aspecto era de um alimento fora do prazo de validade
Foto: Mauro Pimentel / Terra

"Algumas pessoas passaram mal, eu pelo menos vi uns quatro com dor de barriga. E isso já tinha acontecido, mas hoje foi demais. Parece que agora trocaram a empresa que fornece essas quentinhas, mas não quiseram passar para a gente. Foi uma irresponsabilidade", contou o índio Ubiraci Pataxó.

Membro da comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, e defensor dos direitos indígenas no Rio, o advogado Arão da Providência Araújo também constatou o problema, e foi outro que não conseguiu se alimentar. "Ninguém comeu direito hoje aqui, deram uns tíquetes para gente, mas eles não são aceitos aqui, teríamos que comer fora da Cúpula", explicou.

A reportagem do Terra teve acesso a uma das quentinhas distribuídas (veja foto), e o aspecto, de fato, era de um alimento fora do prazo de validade. A diretora de produção da Cúpula dos Povos, Suzana Crescente, afirmou que não é de responsabilidade do evento produzir os alimentos, até porque uma norma municipal, da Vigilância Sanitária, proíbe a instalação de cozinhas em espaços públicos.

A responsabilidade da Cúpula é prover um tíquete alimentação no valor diário de R$ 24 a cada um dos 15 mil participantes "para que eles possam se alimentar antes ou depois de estarem aqui, além de água, e alojamentos. Conversamos com os líderes e demos alguns tíquetes a mais para eles se alimentarem, mas o principal problema dessa questão foi que eles passaram um número de 1.100 índios no evento e vieram muito mais do que isso', ponderou a diretora.

A questão é que as associações indígenas resolveram terceirizar a alimentação para que os índios pudessem fazer suas refeições no próprio local do evento. Líder da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Sônia Guajajara não soube informar a empresa responsável pelas quentinhas para os índios. A produção do evento também desconhece a fornecedora. Ela afirmou que o problema estará solucionado nesta segunda-feira e confessou que o número de participantes da Cúpula saltou de 1.100 para 1.715.

"Por um lado é bom o povo ter vindo, mas não estávamos preparados para tanta gente. Algumas associações não tinham confirmado presença, mas acabaram vindo", disse Sônia. O excesso de contingente indígena prejudicou também as instalações no sambódromo, local de alojamento dos índios, no centro do Rio. Indígenas, que não quiseram se identificar temendo algum tipo de represália das lideranças, afirmaram para a reportagem que não existem colchões para todos, que muitos estão dormindo no chão.

Nos ofereceram a Quinta da Boa Vista, um terreno ótimo, com banheiros e tudo o mais, mas lá só é possível acampar, e nem todo mundo trouxe barraca. São alguns transtornos, gente insatisfeita, mas acho que faz parte. Em cima da hora não dava para arrumar todo mundo", contestou Sônia.

Fonte: Terra
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