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Rio+20: "Índios hi-tech" registram tudo na Cúpula dos Povos

15 jun 2012 - 12h37
(atualizado às 13h20)
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André Naddeo
Direto do Rio de Janeiro

Com câmeras, celulares e notebook, índios chamam a atenção na Cúpula dos Povos
Com câmeras, celulares e notebook, índios chamam a atenção na Cúpula dos Povos
Foto: Daniel Ramalho / Terra

Enquanto representantes das etnias indígenas Macuxi e Wapichara dançavam a tradicional "Parixara", música que representa os costumes de cada povo, Bemok Txucarromae, da etnia caiapó, chamava mais a atenção do que qualquer um dos índios que encenavam a dança típica. E não era pelos alargadores de orelha, ou boca, tampouco pelas pinturas ou mesmo cocares. Bemok operava uma câmera Sony profissional, com lente, e cartão de memória.

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E ele era apenas um dos vários "índios hi-tech" que invadiram o aterro do Flamengo, na zona sul do Rio de Janeiro, no dia de abertura da Cúpula dos Povos, um dos mais importantes eventos paralelos à Rio+20, que trará discussões sobre os mais variados temas sustentáveis até o próximo dia 22. Por onde se olha, por mais que os rostos pintados impressionem, é fácil entender que o povo indígena também evoluiu tecnologicamente.

"Trabalho com edição de vídeo há dois anos, e hoje estou aqui para fazer imagens para o Instituto Raoni", explicou Bemok, que trabalha para o cacique mais famoso do Brasil, também presente na Tenda dos Povos Indígenas, local de discussões sobre os direitos de todas as etnias pelo país. "Estamos evoluindo, claro, as pessoas ainda se impressionam quando me veem com essa câmera, mesmo todo pintado e vestido desse jeito. Mas não é porque sou índio que não vou saber operar uma câmera", completou.

Direto do Mato Grosso, onde a tribo caiapó ocupa um terreno perto do município de Peixoto, ele viajou quase dois dias de ônibus para chegar ao Rio de Janeiro. Sua missão: registrar todo o evento para, posteriormente, mostrar para toda a aldeia num documentários sobre a luta para se fazer ouvido dos povos indígenas dentro da conferência da ONU.

"Minha responsabilidade é grande, pois tenho que mostrar tudo o que estamos brigando aqui para as pessoas que não tiveram a oportunidade de estar aqui. É uma honra para mim poder registrar tudo isso, espero que todos tenham uma visão de futuro que integre também nós, índios do Brasil", disse o caiapó.

Quando a reportagem do Terra terminou de conversar com Bemok, uma grande movimentação começou e uma legião indígena empunhou câmeras e celulares para registrar o ponto alto do evento: a chegada do cacique Raoni, talvez um dos índios mais famosos do Brasil por sua luta pela preservação da Amazônia e dos povos. Um dos que estavam registrando ansiosamente o ídolo era Kawuã Pataxó.

Direto de Minas Gerais, perto do município de Carmésia, o índio pataxó vibrava com a oportunidade de ver de perto o cacique, comprovando a tese de que índio também pode ser tiete. "A gente tem celular, tem câmera, computador, a gente sabe mexer em tudo isso. É importante registrar, até porque sou coordenador de uma escola indígena e vou passar isso tudo para os alunos depois", explicou.

"A gente tem que lutar por mais suporte para todas as etnias, para a gente se tornar um só povo, é daqui que vai sair o sumo do que precisamos para levar nossa luta adiante", completou, antes de sentar na cadeira de plástico, puxar o seu laptop, e descarregar as imagens que acabou de fazer. "Encheu o cartão", disse.

Momento de discussão

A tenda montada no aterro do Flamengo, por mais que chame a atenção de quem passa pelo local pelas danças, vestimentas e até mesmo pelos novos costumes tecnológicos, também será palco de importantes discussões em torno da causa indígena, coordenadas pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).

"Nosso objetivo é fortalecer a união dos povos indígenas do país, congregando as cinco regiões do Brasil", explicou Sônia Wajajara, dirigente da instituição. "Nosso modo de conviver com o meio ambiente demonstra que os povos indígenas sabem cuidar e sabem preservar. Nossas terras são as mais preservadas, então, ninguém melhor do que a gente para dizer o que é ser sustentável, como conviver com a mãe terra, bem sagrado para os índios", completou.

As metas dos debates também incluem causas antigas dos índios, como demarcação de terras, investidas contra construção de usinas hidrelétricas, principalmente na Amazônia, além de chamar a atenção, mais uma vez, para as ameaças diárias que eles sofrem ao buscar os seus direitos.

"E um encontro para compartilhar nossa dor e sofrimento pela demarcação da terra, principalmente dos guarani-kawuia. São ameaças diárias, vocês não tem ideia do que passamos lá no Mato Grosso do Sul. Esse pessoal mata mesmo. Temos nossos direitos. Cadê a nossa voz?", indagou Antoniel Ricardo, um dos coordenadores da Apib, arrancando aplausos da plateia.

Rio+20

Vinte anos após a Eco92, o Rio de Janeiro volta a receber governantes e sociedade civil de diversos países para discutir planos e ações para o futuro do planeta. A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que ocorre até o dia 22 de junho na cidade, deverá contribuir para a definição de uma agenda comum sobre o meio ambiente nas próximas décadas, com foco principal na economia verde e na erradicação da pobreza.

Composta por três momentos, a Rio+20 vai até o dia 15 com foco principal na discussão entre representantes governamentais sobre os documentos que posteriormente serão convencionados na Conferência. A partir do dia 16 e até 19 de junho, serão programados eventos com a sociedade civil. Já de 20 a 22 ocorrerá o Segmento de Alto Nível, para o qual é esperada a presença de diversos chefes de Estado e de governo dos países-membros das Nações Unidas.

Apesar dos esforços do secretário-geral da ONU Ban Ki-moon, vários líderes mundiais não estarão presentes, como o presidente americano Barack Obama, a chanceler alemã Angela Merkel e o primeiro ministro britânico David Cameron. Ainda assim, o governo brasileiro aposta em uma agenda fortalecida após o encontro.

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Fonte: Terra
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