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Depois de relatórios sobre agricultura e sustentabilidade...

1 ago 2012 - 15h41
(atualizado às 16h02)
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Mais um foi lançado recentemente! Grande número de organizações multilaterais, entidades de pesquisa, ONGs, consultorias empresariais, entidades de classe e outros think-tanks anunciaram estudos e relatórios sobre a agropecuária. Diversos foram lançados durante a Rio+20, um pouco antes ou um pouco depois. Foi uma tempestade de análises, ideias e propostas.


Quase todos começavam com o mesmo cenário: crescimento populacional, maior demanda por alimentos e tendência de aumento de seus preços, concentração na produção e distribuição de alimentos, a ¿competição¿ entre comida e biocombustíveis. A partir deste cenário, cada trabalho aprofundou outros temas, como o desmatamento, a expansão da fronteira agrícola sobre os recursos naturais ou as populações rurais ou tradicionais, os impactos sobre a segurança alimentar, mudanças climáticas, o papel do setor financeiro ou dos consumidores e diversos outros desdobramentos ou temas imbricados de alguma forma com agricultura e sustentabilidade.


Um dos mais recentes estudos ranqueou a segurança alimentar em 105 países, a partir de um índice da Economist (Economist - Global food security index 2012. Economist Intelligence Unit. http://foodsecurityindex.eiu.com/), que resume 25 indicadores sobre disponibilidade, qualidade, segurança e acessibilidade econômica de alimentos. Uma das conclusões corrobora outros destes estudos recentes, demonstrado uma correlação muito forte entre acesso a alimento saudável e a oportunidade econômica das mulheres. Resumindo, o estudo recomenda a liderança feminina, se o objetivo for produção de alimentos e alimentação equitativa e saudável. O relatório cita um documento da FAO, que afirma que, se as mulheres tivessem acesso aos mesmos recursos que os homens para a produção, as colheitas poderiam ser de 20% a 30% maiores e poderiam contribuir para redução da fome entre 12% e 17% no mundo. Somente com esta pequena mudança.


Trazendo o estudo da Economist para o nosso quintal, vem a desagradável constatação. A potência mundial agrícola, no pódio entre os primeiros produtores e exportadores mundiais de alimentos e diversas commodities agrícolas, aparece em 31° lugar no ranking de segurança alimentar. Além de estarmos atrás de países em que a produção de alimentos é pífia (como a Finlândia e a Arábia Saudita!), outros países latino-americanos e em desenvolvimento estão à nossa frente, como o Chile e o México. Como sempre, a desigualdade explica o nosso resultado, aquém do desejado para um País como o nosso.


Trago os casos das mulheres e da segurança alimentar somente para ilustrar a relevância dos assuntos em questão e as grandes possibilidades para mudanças e oportunidades para o protagonismo do Brasil na contemporaneidade da agricultura e sustentabilidade. Os relatórios recentes apresentaram diversas opções de políticas e ações, que vão de mudanças estruturais a ajustes nos sistemas de produção e distribuição de alimentos. Mas o que estamos fazendo? Um pequeno grupo de empresas, que concentra o mercado mundial de alimentos, é citado em muitos dos estudos e está botando a mão na massa para enfrentar os desafios que vem pela frente, mas com que interesse? Para resolver o problema da fome, da concentração e degradação ambiental? Pairam muitas dúvidas.


Passada a Rio+ 20, cabe ao governo brasileiro fazer a lição de casa. Especificidades setoriais à parte, o aumento da produção segue com políticas ou sua inércia, com o lugar no pódio da produção pouco ameaçado. Mas muito pouco tem sido feito para nos tirar do andar de baixo dos indicadores que incorporam dimensões de equidade, e expõem a desigualdade ou a degradação - como o campeão do uso de agrotóxicos e a violência no campo. Está na hora do nosso governo levar a sério as nossas necessidades e possibilidades e ir além dos espetáculos da Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016.


Luís Fernando Guedes Pinto possui graduação em Agronomia e doutorado em Fitotecnia (Esalq-USP) e faz parte da equipe do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora).


Fonte: DiárioNet DiárioNet
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