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Finlândia arrenda florestas para preservar biodiversidade

20 jul 2012 - 09h15
(atualizado às 17h22)
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Sabrina Bevilacqua
Especial da Finlândia para o Terra

Governo da Finlândia está arrendando terras de proprietários locais que tenham florestas nativas para preservar a biodiversidade do país. Trata-se de uma tentativa de chamar a atenção dos donos dessas áreas para a conservação do meio ambiente. A mata natural na Finlândia é pouca - representa apenas de 2% a 10% das florestas -, apesar de o país ter o maior porcentual de áreas florestais do continente, com 76% de seu território (23 milhões de hectares) coberto por florestas.

Governo finlandês trabalha para aumentar a mata nativa local, que representa apenas de 2% a 10% das florestas do país
Governo finlandês trabalha para aumentar a mata nativa local, que representa apenas de 2% a 10% das florestas do país
Foto: DiárioNet

Segundo o professor de Meio Ambiente e Recursos Econômicos da Universidade de Helsinque, Markku Ollikainen, aproximadamente metade das florestas finlandesas é utilizada para fins econômicos. A indústria florestal é uma das atividades com mais destaque na economia local, com foco basicamente na exploração de madeira para atividades como a produção de móveis e papel. O setor responde por 8% do Produto Interno Bruto do país e por cerca de 30% das exportações. A importância econômica da atividade levou a uma exploração desenfreada do solo. Como consequência, a qualidade e o volume da madeira produzida começaram a cair.


Diante do quadro que colocava em xeque a atividade industrial e a preservação ambiental, o governo decidiu inovar sua relação com o setor florestal. Uma saída foi ajudar na melhoria da gestão das áreas florestais - na Finlândia dois terços das florestas são particulares. As medidas estão dando certo. Hoje o crescimento de árvores supera o de corte. E a área protegida no sul do país dobrou, atingido 3% - no norte o índice chega a 30%.


Os especialistas como Ollikainen ponderam, entretanto, que só aumentar o número de áreas protegidas não é suficiente. Para eles, o importante é que elas sejam naturais. Ollikainen ressalta a necessidade de pensar na biodiversidade. Argumenta que as florestas plantadas não garantem a sobrevivência de metade das espécies existentes no país - 38% dos animais em extinção vivem em florestas. "Precisamos encontrar maneiras de elevar o valor das florestas naturais em pé e de manter a nossa biodiversidade. E o arrendamento de propriedades é uma maneira de fazê-lo", afirma o professor.


Pelo projeto, o governo faz um estudo da fauna e flora das propriedades candidatas a participar do programa e, se considerar que o local é importante para a conservação da biodiversidade, firma um acordo de arrendamento por dez anos. Durante esse período, o local não pode ser explorado. Segundo Ollikainen, o proprietário pode receber valores que variam de 3 mil euros a 10 mil euros por hectare para os dez anos, dependendo do potencial de biodiversidade identificado que estará sendo preservado.


Após o arrendamento, o dono da terra pode retomar o local para desenvolver atividades, renovar o acordo ou vender para o governo. Em caso de compra pelo Estado, o local será transformado em área preservação permanente.


De acordo com Ollikainen alguns proprietários já demonstraram interesse em vender as terras para o governo. "Conheço alguns casos em que as negociações para proteção permanente já começaram", conta.


O programa do governo é uma alternativa econômica principalmente para pequenos proprietários ou famílias que utilizam suas terras para recreação - um finlandês de cada cinco tem uma área com floresta em sua propriedade. O pagamento aos pequenos proprietários também funciona como um seguro futuro, uma vez que a venda de madeira e de papel para Europa e Estados Unidos vem diminuindo ano após ano.


Ollikainen ressalta que o projeto pôs fim às ações mandatórias do governo que não resolviam os problemas econômico e ambiental. Ele explica que quando uma espécie rara era encontrada em uma terra particular, as autoridades proibiam o dono de exercer qualquer atividade no local. A medida teve efeito inverso. Para evitar problemas com o Estado, os proprietários passaram a exterminar os animais. Em alguns casos, quando não conseguiam encontrá-los, derrubavam a floresta toda antes que o governo tivesse tempo de agir. Na opinião do professor, o programa do governo deu uma nova dimensão à área florestal e sugere que o patrimônio de espécies e animais poderá ser preservado para gerações futuras.


Fonte: DiárioNet DiárioNet
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