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Além da sustentabilidade: uma abordagem mais radical

31 jan 2012 - 11h22
(atualizado em 7/2/2012 às 10h54)
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A Sustentabilidade está rapidamente se tornando parte de debates mainstream, mas há dúvidas sobre sua eficácia para resolver alguns dos problemas globais mais agudos. Tomando a meta do milênio das Nações Unidas de erradicação da fome e da pobreza como um exemplo, a dura verdade é que a sustentabilidade como uma solução foi quase sem nenhum efeito. Isto é ainda mais verdadeiro no caso das mudanças climáticas, como vimos em 2010, em que houve o maior salto de emissões de gases efeito estufa dos últimos anos, superando até os modelos científicos mais pessimistas.

Uma razão é que o discurso da sustentabilidade, muitas vezes, parece condenado a apenas arranhar a superfície. Veja alguns exemplos que evidenciam a discussão:

- O carro elétrico é frequentemente citado como a solução de baixo carbono para o transporte pessoal. No entanto, muitas das cidades do mundo caressem de infra-estrutura para suportar milhares de carros elétricos, mas a indústria raramente faz esta pergunta crucial.

- Reservas de petróleo e gás continuam a ser exploradas em locais de acesso cada vez mais difíceis. A questão é, os investidores e a indústria consideram em seus modelos de risco que seria irresponsável extrair todas essas reservas, se quisermos manter um cenário de mudança climática controlável?

- No Brasil, as conversas sobre sustentabilidade na agropecuária tendem a se concentrar na industrialização desse setor, ao invés de perguntar se no longo prazo fará ou não sentido para o desenvolvimento sustentável a quantidade de carne que se produz atualmente.

Em poucas palavras, na sustentabilidade a questão da mudança sistêmica raramente é levantada, embora todos saibam que o modelo econômico atual certamente não continuará sem mudanças substanciais. A sustentabilidade corporativa está presa nesta contradição e, como se isso não fosse o suficiente, as empresas aplicam estratégias de marketing agressivas em torno do tema, enquanto ficam diluídas as configurações mais profundas dos problemas.

Gostaria de saber se a 'comunidade da sustentabilidade' precisa tomar uma posição mais radical em repensar a sua posição, a partir de uma perspectiva orientada para metas. Quando eu estou sugerindo isso, eu não estou falando do conceito do shared value (valor compartilhado). Em minha opinião, esse conceito é definitivamente um passo a frente, porque a orientação clara das partes interessadas (stakeholders) torna evidente que a sustentabilidade não é apenas um meio para promover as vendas. Mas, a sustentabilidade deve ir além de shared values e incorporar novas abordagens que podem promover mudanças transformadoras com resultados altamente desejáveis, tais como:

- Se as empresas incorporassem a sustentabilidade como parte de sua estratégia de negócio, não haveria qualquer necessidade do 'rótulo sustentabilidade'. Torna-se simplesmente redução de custos, lucratividade, inovação e geração de valor mútuo - em suma, fazendo negócios.

- Para resolver alguns dos problemas mais cruciais do desenvolvimento, estão surgindo formas mais eficazes de direcionamento de recursos financeiros à base. Esses mecanismos de investimento de impacto social estão localizados na fronteira entre desenvolvimento de comunidades, iniciativas privadas e investidores. Fundos especializados em investimento de impacto buscam aplicar em empresas que oferecem produtos e serviços para a população mais pobre ou o foco são empresas diretamente emergentes de atividades da base da pirâmide (business to four billion). Como as abordagens estão ficando mais sofisticadas, temos um forte efeito sobre o desenvolvimento econômico onde é mais necessário.

- Abordagens de negócios 'não materiais' (serviços ou informações virtuais) estão ganhando espaço com avanços em TI, como computação de nuvem ou E-Books, e assim estão prestes a mudar completamente o modo atual de consumo, porque eles virtualizam recursos e, muitas vezes, não necessitam de um meio de suporte físico.

- Nesta linha de pensamento, encontramos as abordagens de compartilhamento. Hoje, a ideia de bens para compartilhar em vez de possuí-los ainda é inimaginável para muitas pessoas, por razões culturais. Mas será que realmente todos precisam de um carro próprio, malas de viagem, entre outros?

Estamos testemunhando a evolução natural de modelos de negócios, às vezes com ideias incrivelmente simples, às vezes com soluções altamente tecnológicas. O benefício e o apelo de ideias como investimentos de impacto ou as abordagens "não materiais" são a inclusão social, juntamente com a diminuição do impacto ambiental. Se isso se tornar predominante, vai finalmente fechar o ciclo pressuposto por John Elkington - o triple bottom line - e, além disso, irá desafiar a raiz do problema da distribuição justa de riqueza e dos recursos naturais cada vez mais escassos.

Martin Studte é consultor da Keyassociados.

Fonte: DiárioNet DiárioNet
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