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Crise mundial faz espanhóis buscarem oportunidades no Brasil

12 out 2012 - 07h38
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Os poucos meses no Brasil já lhe renderam alguma desenvoltura no idioma. Quando chegou a São Paulo, em março, a espanhola Consuelo Tenente conhecia o País apenas pelos relatos de amigos. Em sua mente, era a terra das oportunidades. Consuelo faz parte dos 100.622 espanhóis que vivem por aqui. Os dados do Instituto Nacional de Estatística da Espanha, referentes ao período entre janeiro de 2011 e janeiro de 2012, mostram ainda que o número é 28% maior do que o verificado há três anos.

A crise espanhola vem afastado os espanhóis do país em busca de emprego
A crise espanhola vem afastado os espanhóis do país em busca de emprego
Foto: Shutterstock


A crise na Espanha, que afetou principalmente o setor de construção civil, fez com que a taxa de desemprego chegasse a 24%. O medo de futuramente perder o trabalho trouxe Consuelo para cá. A espanhola de 32 anos é consultora de gestão de projetos e trabalhava em uma companhia que prestava consultoria a empresas em busca de financiamento para desenvolver projetos no setor de inovação. "Nós procurávamos ajuda na Espanha e na União Europeia. A empresa cresceu muito porque havia muitas oportunidades de financiamento. Com a troca de governo e com a crise, toda a ajuda espanhola parou", explica Consuelo. Por isso, foi preciso buscar auxílio junto ao bloco econômico do continente, porém, o processo para consegui-lo é mais burocrático e ficou difícil para a consultora exercer seu trabalho.



Os chefes de Consuelo foram transparentes quanto à situação futura da empresa. "Eles falaram que era uma questão de tempo, que provavelmente antes do verão teriam de fechar ou reduzir (número de empregados)", relembra. Assim, os funcionários resolveram já garantir uma carta na manga que pudesse ser usada se este momento chegasse. No caso de Consuelo, a jogada foi vir para o Brasil.



A crise espanhola afetou principalmente o setor de infraestrutura e energia, como explica a diretora executiva da Cámara Oficial de Comercio en Brasil, María Luisa Castelo Marín. Antes, a área de construção civil era uma das principais propulsoras do desenvolvimento no país. Entretanto, a quantidade de apartamentos se tornou maior do que a procura. A falta de compradores fez a bolha imobiliária estourar, desencadeando a crise financeira. Isso afetou outros setores associados ao de imóveis, como de decoração de interiores e lojas de móveis. "São empresas pequenas. A diferença é que as grandes, além do investimento da Espanha, têm investimento de outros países. As pequenas só tem oportunidades dentro do país, então são elas que foram mais afetadas", explica María Luisa.



A diretora executiva da Cámara afirma que os segmentos da economia afetadas no país são exatamente aqueles que mais crescem no Brasil. Ela cita como exemplo os investimentos do governo em aeroportos, rodovias e transporte público. "Madri tem um dos maiores metrôs da Europa, temos muita experiência que podemos trazer ao Brasil", acrescenta.



Foi exatamente a vontade de um recomeço, como o sonho dos imigrantes que vão para o norte da América, que atraiu Consuelo. A espanhola sempre nutriu interesse pelo Brasil, e o crescimento econômico que o país apresenta atualmente contribuiu para que tomasse a decisão de deixar apartamento e emprego. Antes de chegar conversou com conhecidos no Brasil para saber para qual cidade deveria ir. "Todas as pessoas me aconselharam a ir para São Paulo, a cidade mais financeira do Brasil, porque eu trabalhava em uma consultura e aqui tem mais empresas", justifica.



Os países mais procurados da América Latina

Assim como ela, outros espanhóis buscam oportunidades no país. A Cámara Oficial Española de Comercio en Brasil recebeu, de novembro de 2011 a maio de 2012, 700 currículos de profissionais da Espanha. María Luisa Marín diz que outras opções para os trabalhadores com receio de perder o emprego, ou os que já perderam, são Peru, México, Chile e Colômbia. Os três últimos têm mostrado bons indicadores de crescimento. Entretanto, são os componentes do BRIC - Brasil, Índia, Rússia e China - que mais atraem os olhos dos espanhóis.

Consuelo conta que avaliou a situação destes quatro países e da América do Sul, em geral, até tomar a sua escolha. O Brasil apresentou o quadro mais favorável. "A taxa de desemprego é a mais baixa na América Latina. Eu olhei um pouco para os fatores econômicos e um pouco para a cultura. Eu sentia que era mais fácil para entrar no mercado e me acostumar", relata a espanhola.

Dentro da Europa, como países passam melhor pela crise financeira do que a Espanha, a Alemanha também é um destino procurado. Porém a diferença cultural e o idioma são grandes empecilhos para a busca de emprego e a adaptação. Isso também impede a ida para outros países do BRIC. "Para um espanhol é muito mais fácil se acostumar a morar no Brasil do que na China", observa María Luisa.

Desde março no Brasil, Consuelo ainda procura um emprego fixo, mas já fez algumas colaborações para empresas italianas e espanholas que desejavam conhecer a realidade do mercado brasileiro. Ela explica que a principal dificuldade está em conseguir a documentação necessária exigida pelas empresas na contratação. "O visto demora oito meses para ficar pronto, e as empresas não querem esperar esse tempo", afirma. Segundo ela, faltam cerca de dois meses para que seus documentos fiquem prontos. Depois disso, vai sair atrás das oportunidades que tanto imaginou quando deixou a Espanha.

Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
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