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O que limita a democracia é a visão unidimensional, diz FHC

13 abr 2010 - 21h43
(atualizado em 15/4/2010 às 13h56)
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Fabiana Leal
Direto de Porto Alegre

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) afirmou que o que mais limita o "espírito democrático é a visão unidimensional". Ele acredita que é difícil dizer que o Brasil está com espírito efetivo de democracia - que inclui liberdade e o pressuposto de que todos são iguais perante a lei. "Mas temos antídotos para evitar que a democracia se torne em seu contrário. Falta no Brasil reforçar o verdadeiro espírito de liberdade".

Ex-presidente Fernado Henrique defende democracia e liberdade no encerramento do Fórum
Ex-presidente Fernado Henrique defende democracia e liberdade no encerramento do Fórum
Foto: Raphael Falavigna / Redação Terra

Segundo FHC, ao contrário do que muitos podem pensar, democracia sem o espírito de liberdade pode ter resultados econômicos positivos. "Não precisamos ir longe. Na China, a economia pode crescer sem espaço para competição e liberdade, mas é o caso de perguntar: 'é isso que queremos'? Queremos morar num país que cresça muito, mas só numa dimensão, ou queremos viver num país descente - que respeita a lei, que dá segurança, que tem política efetiva, que garanta aos cidadãos o mínimo de acesso à escola e à saúde? Tudo isso faz parte do requisito de ser democrático e, ao ser assim, não se é unidimensional, mas pluridimensional".

FHC lembrou, durante a palestra, do livro O Príncipe, de Maquiavel, do qual o autor parte da idéia de que é preciso haver "organização". Segundo o ex-presidente, no fundo, Maquiavel disse: "ou nós organizamos a sociedade ou vem a anarquia. O homem não é bom. O homem se motiva pela inveja, pela vontade de enriquecer e se não há uma regra, a anarquia prevalece".

Fernando Henrique comparou o tema discutido por Maquiavel dizendo que há várias formas de organização - principados e repúblicas. Para ele, sempre existem os grandes e os pequenos, tem quem manda e quem obedece e há sempre uma tensão. No "principado novo", a luta dos mais poderosos é mais visível, a força aparece logo e o príncipe pode ser mais odiado do que no principado antigo. Já na República, há uma cultura civil que permite obediência à regra.

Discorrendo mais sobre o assunto, FHC disse que democracia não é uma coisa que existe naturalmente. "Naturalmente existe a anarquia. A democracia tem de ser uma construção humana. No decorrer da história, fomos formando certas ideias como, por exemplo, a de que é melhor organizar a sociedade e ter canais que permitam o encaminhamento desses conflitos".

A governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB), acompanhou o tucano Fernando Henrique até o evento, na PUC-RS. Quando ela entrou no salão, onde aconteceu o painel "Políticas e Ideias", foi vaiada e, depois, quando foi citada pelo presidente do Instituto de Estudos Empresariais (IEE), Leonardo Fração, houve uma mistura de aplausos e vaias.

Liberdades políticas

O empresário Jorge Gerdau Johannpeter, presidente do Conselho de Administração da Gerdau, também abordou o assunto "liberdade". Ele afirmou que não há nada mais importante do que as liberdades políticas, que têm de ser respeitadas e mantidas. Gerdau disse que os participantes do Fórum foram "cerceados" de ouvirem o professor Xingyuan Feng, da Academia Chinesa de Ciência Social, que não teve sua viagem permitida pela China até o Brasil para participar do evento. "Acho que a palavra liberdade assustou um pouco eles".

Na quinta-feira, dia 15 de abril, após o témino do evento, uma nota de esclarecimento em jornais do Estado informou que o professor não pôde comparecer ao fórum por não "ter obtido a tempo o visto de trânsito para uma das escalas no trajeto da China para o Brasil.

Segundo Gerdau, sem capitalismo, a democracia não se sustenta. "Ela acontece pelo milagre da liberdade individual e da liberdade econômica". Citando um livro que leu recentemente, Gerdau disse que aprendeu que o empresário tem de cuidar da família, da empresa e da política. "Cuidar da política é chato, mas se eu não cuidar da política, os políticos estragam tudo de bom que eu fiz na empresa", disse.

Líder na região

O ex-presidente da Bolívia Jorge Quiroga (2001 e 2002) disse esperar que o Brasil, como "líder indiscutível da região", ajude na integração dos países da América do Sul e da América Latina. "Que o Brasil tenha um papel fundamental e nos ajude a combater o protecionismo comercial europeu e americano". Quiroga também elogiou o programa Bolsa Família do governo federal brasileiro.

O ex-presidente boliviano disse que os países em melhores condições devem ajudar os vizinhos da América Central. "Todos nós exportamos energia ou comida, ou os dois. Lá, com exceção de Trinidad e Tobago, todos importam esses produtos".

Logo no início da palestra, Quiroga brincou dizendo que deseja ver o Brasil na final da Copa do Mundo, passando pelo tempo normal, prorrogação e pênaltis - para que os brasileiros assistam bastante televisão e, assim, gastem muita energia elétrica - e para que o Brasil tenha de comprar gás da Bolívia, que ainda responde por uma pequena parte da matriz energética do Brasil.

Portal Terra

Colaborou com esta notícia o internauta Carlos Hilgert Ferrari, de Porto Alegre (RS), que participou do vc repórter, canal de jornalismo participativo do Terra. Se você também quiser mandar fotos, textos ou vídeos, clique aqui.

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