Atrair um investidor-anjo exige preparo do empreendedor
Além de faturar bilhões de dólares, as peças da Broadway também foram fonte de novas relações de negócios. Na década de 1920, surgiu em Nova York a expressão investidor-anjo. Jovens escritores e produtores buscavam pessoas com capital e experiência para ajudá-los a montar as peças teatrais que escreviam. Desde então, o foco dos investidores-anjo mudou. No Brasil, eles já aplicaram cerca de R$ 450 milhões em pequenas empresas e
startupsde tecnologia, segundo dados do Instituto Anjos do Brasil.
"O investidor-anjo é uma pessoa física que investe os próprios recursos. Ele aplica não só o capital financeiro, mas principalmente seu conhecimento e experiência", explica Cássio Spina, autor do livro
Investidor-Anjo: Guia prático para investidores e empreendedores(Editora nVersos). Além disso, a rede de contatos trazida é fundamental para que ele auxilie o negócio a superar as dificuldades - principalmente no início da operação, quando o modelo deve ser validado pelo mercado.
Cássio explica que existem dois motivos para um investidor apostar em uma
startup. "Primeiro, porque o capital investido é menor do que de um fundo de investimento. Segundo, que ele pode agregar valor com o conhecimento. E isso, obviamente, aumenta seu valor perante essa empresa", diz.
Como encontrar um anjo
O foco desses investidores costuma ser empresas em fase pré-operacional, momento no qual o criador tira a ideia do papel e realiza o plano de negócios, a prova de conceito e o protótipo do produto ou serviço que pretende oferecer. O empreendedor deve entender como funcionam todas as etapas do negócio e se capacitar para que ele dê certo e para poder apresentar a ideia consolidada aos potenciais investidores.
"Não ache que só com uma ideia vai conseguir investimento. Não vai, por melhor que ela seja. É preciso mostrar que já conseguiu fazer alguma coisa sozinho", alerta Cássio. Para a fase pré-operacional, o empresário pode contar com o chamado love money, um investimento normalmente feito por familiares e amigos para ajudar a tirar a empresa do papel, e que costuma ser inferior a R$ 50 mil.
Para encontrar um investidor, o empresário pode contar com entidades de apoio como o Instituto Anjos do Brasil, organização sem fins lucrativos que tem como objetivo montar uma rede nacional de investidores e empresários. A instituição também oferece textos e ferramentas que ajudam o empreendedor a tirar o negócio do papel. Uma vez interessado em determinada ideia, o investidor entra em contato diretamente com o empreendedor.
É comum que os empreendedores optem por investidores que tenham experiência no setor de atuação do negócio. Assim, o conhecimento do mercado do anjo pode ajudar a criar estratégias e trazer potenciais clientes. Mas isso não deve ser uma regra. "É como eles dizem: 'negócio é negócio'. Mesmo quando o investidor não tem um conhecimento específico no seu mercado, ele pode auxiliar em como construir o seu negócio", orienta Cássio.
Sócio conselheiro
Uma vez fechado o acordo, o investidor se torna sócio da empresa. "Mas ele não será o sócio executivo, que está no dia a dia. Ele estará presente em reuniões periódicas, ou conforme necessário", explica Cássio.
Como diz a própria expressão, ele se torna uma espécie de anjo da guarda e tem uma relação de conselheiro, apresentando soluções e usando sua rede de relacionamento para buscar potenciais clientes e parceiros. "Ele deve ajudar e evitar que o empreendedor cometa algum erro que ele sabe que pode acontecer. Isso diminui as chances de fracasso e aumenta as chances de sucesso", afirma.
Não existe um prazo de permanência do anjo no negócio. Essa é uma decisão que cabe ao empreendedor e ao investidor. "Por ser um investidor, ele quer retorno do investimento. E o melhor retorno é a venda da participação do negócio quando ele já estiver maduro", aponta Cássio. Hoje, o tempo para que uma empresa seja considerada madura é de três a cinco anos.
Nos Estados Unidos, os investidores-anjo já são 360 mil. Já no Brasil há 5,3 mil deles, segundo dados do Instituto Anjos do Brasil. Mas o potencial de crescimento é grande. "Deve ser feito muito trabalho de entidades e até do próprio governo, oferecendo políticas de incentivo e de proteção ao investidor, uma vez que esse risco é bem maior do que de outro investimento", defende Cássio.