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Teia burocrática do País atrapalha investimento estrangeiro

23 fev 2012 - 07h37
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Carga tributária pesada, uma burocracia muitas vezes ininteligível que agrega custos evitáveis e encargos trabalhistas elevados, além da dificuldade para conseguir o alvará de funcionamento, são problemas conhecidos pelos empreendedores brasileiros. Muitos investidores estrangeiros têm passado pelos mesmos percalços - com algumas dificuldades adicionais. Preços elevados e taxas sobre importações estão na pauta do dia para esses novos atores.

Dificuldades com a burocracia fazem com que a importação de certos equipamentos demore para acontecer no Brasil
Dificuldades com a burocracia fazem com que a importação de certos equipamentos demore para acontecer no Brasil
Foto: Shutterstock / Especial para Terra


O consultor Paulo César Mauro, presidente da Global Franchise, empresa voltada para trazer novas franqueadoras para o Brasil, avalia que a maior dificuldade encontrada por franquias internacionais que se instalam no País é importar seus produtos e equipamentos. Segundo ele, taxas alfandegárias elevadas tornam difícil a vida do empresário estrangeiro. Ele cita o exemplo da marca espanhola Mango, especializada no mercado de moda feminina. "A Mango tem seus custos aumentados de tal forma no Brasil, que a solução do franqueador para atuar em nosso país foi diminuir a margem de lucro", explica.



A Quiznos, empresa concorrente mundial da Subway no mercado de sanduíches, atua no Brasil desde julho de 2010. Luiz Antonelli, diretor da rede, conta que tem dificuldades para importar os fornos patenteados da marca - processo que tem durado cerca de 90 dias. A demora pode se reverter num grande atraso para a operação da empresa, que tem um prazo de implementação de 45 dias para cada nova unidade. No ritmo atual, demorará o dobro do tempo para atingir a expansão planejada.



O sistema tributário brasileiro é outro problema apontado por Mauro, da Global Franchise. Segundo ele, o sistema é muito complexo e acarreta uma carga de impostos elevada. Marcel Solimeo, economista-chefe da Associação Comercial de São Paulo, destaca como maior dificuldade para o empreendedor a burocracia envolvida na cobrança dos impostos - mais até do que as taxas em si. "Temos uma parafernália de impostos, cada uma com sua burocracia. Exemplo: sobre a folha de pagamento é preciso fazer a guia para o INSS, outra para o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço e assim por diante", diz.



Difícil, mas nem tanto

Paulo César Mauro, no entanto, relativiza esses problemas. Ele argumenta que, embora complicado, o Brasil já tem algumas soluções que diminuem essas falhas. Ele cita o exemplo do Simples, programa do governo que unifica alguns trâmites burocráticos e oferece menor taxação para micro e pequenas empresas - caso da maior parte das franquias. Antonelli explica que as lojas da Quiznos são formatadas de maneira que se enquadrem exatamente no Simples.



Para Mauro, uma grande vantagem brasileira é não haver empecilhos para a remessa de pagamentos de

royalties

ao exterior, ao contrário do que se observa em países como a Venezuela e a China.



Mão de obra instável

Um problema que Paulo César Mauro destaca, no entanto, é a mão de obra. "As pessoas ainda encaram o trabalho em uma rede de

fast food

apenas como um primeiro emprego", diz. Segundo ele, muitos funcionários não se interessam em ficar na empresa por muito tempo, o que gera uma busca constante por novos empregados. Solimeo concorda com a tese. "Há uma legislação trabalhista conflitiva. Você paga, por exemplo, R$ 100 como custo de salário de um empregado e outros R$ 100 em encargos trabalhistas. Juntando tudo, isso resulta em um salário baixo para o empregado e, paradoxalmente, em um custo do trabalhador alto para a empresa."



Segundo Mauro, uma particularidade do trabalhador brasileiro é que ele, além de "caro" em comparação com o custo final de outros países, tem um nível de qualificação menor. "A formação média é pior em relação aos países mais desenvolvidos e os custos são altos, devido à carga de impostos e benefícios envolvidos", avalia.



Altos custos em São Paulo e Rio

O consultor, no entanto, avalia que não somente o custo da mão de obra aumentou. "O Brasil é um dos países mais caros do mundo, principalmente cidades como São Paulo e Rio de Janeiro. Qualquer coisa custa mais que em qualquer outro país", diz ele.



Antonelli concorda, destacando o preço dos aluguéis em outras regiões. "Hoje, há shopping centers no Nordeste com um preço igual ao do Villa Lobos, em São Paulo."



Ele conta também ter tido grande dificuldade para encontrar fornecedores que conseguissem atender a sua empresa. "Grandes fornecedores nos davam um prazo de seis meses para produzir uma amostra do produto. Eles estão operando com toda a capacidade", afirma. Apesar disso, diz que se mantém otimista. "Estou no mercado de alimentos do Brasil há 15 anos e não risco de desaceleração para os próximos 15."



O Departamento de Comércio dos Estados Unidos também se mostra entusiasmado com as perspectivas da economia brasileira. No momento, o órgão finaliza os preparativos para realizar um evento voltado para possibilidades de negócios com franquias americanas - previsto para os dias 11 e 12 de junho, em São Paulo.



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Especial para o Terra

Fonte: Terra
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