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Poluição vai matar 7 mil pessoas em SP em 2009

O Instituto Nacional de Análise Integrada de Risco Ambiental, de Paulo Saldiva, quer incluir saúde humana na agenda ambiental

27 jan 2009 - 09h50
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A conta é simples, mas não faz parte de nenhuma planilha econômica na hora de decidir como produzir: a poluição já causa 19 mortes por dia em São Paulo. Ao longo deste ano serão 6.935. O professor Paulo Saldiva, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo quer incluir essa questão, da saúde, na agenda ambiental do País. Para tanto, coordena o recém-criado Instituto Nacional de Análise de Risco Ambiental. "O objetivo é fornecer informações sobre quem está produzindo a poluição, qual é a dose que a gente está recebendo nos mais diversos cenários, quais são os efeitos, qual é o custo disso", afirma. "Os dados fornecerão instrumentos para que políticas públicas sejam efetuadas com o objetivo de reduzir as emissões de poluentes."

Saldiva entende que uma maneira importante de provocar alguma alteração no nível de degradação ambiental é demonstrando os custos futuros da poluição, principalmente aqueles que afetam a saúde humana. Para ele, as decisões tomadas hoje sobre as opções de combustíveis estão muito mais baseadas no custo do processo operacional do que nas consequências. "A saúde humana é o lado fraco desse processo", comenta.

Como vai cuidar da poluição atmosférica, o instituto deve analisar três cenários: urbano, agroindústria, e biocombustíveis. "O valor de um combustível vai além do custo de produção, processamento e distribuição. Fenômenos como aquecimento global e poluição atmosférica vão agregar ou subtrair valor de um combustível", afirma.

Entre os projetos já em andamento estão um ambiente com ar limpo para analisar a melhora na condição de pacientes doentes. Haverá ainda um concentrador de poluentes atmosféricos no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, que irá simular dias de poluição excessiva.

No Hospital Universitário da USP, serão analisadas 400 gestantes, com diferentes perfis, fumantes e não-fumantes, que moram próximas ou distantes da poluição. As mulheres serão acompanhadas por todo o período de gestação e seus filhos, até os 3 anos de idade. O objetivo é analisar distúrbios como o autismo, baixo peso e obesidade, entre outros problemas.

O instituto tem ainda um programa para estudantes de ensino fundamental. Já há experiências nessa área em cidades como Cubatão e São José dos Campos, ambas em São Paulo. "Mostramos aos alunos que as plantas sofrem mutações por causa da poluição e essa alteração bate com o aumento da taxa de câncer na região, no caso, São José dos Campos", informa.

Na exposição de motivos da criação do instituto, Saldiva afirma que "o risco para a saúde humana é inevitável quando novos processos industriais são implantados ou em diferentes estágios da produção de combustíveis". Por isso, o importante é escolher entre as opções de menor impacto . "O futuro do mercado depende da sua capacidade de suprir os desejos do homem por fontes que assegurem estabilidade climática, o menor dano possível à saúde e que possa levar a uma sociedade com menor iniqüidade. Em outras palavras, os preços futuros dos novos combustíveis e de alguns produtos em breve dependerão não só de custos de exploração, produção, refinamento e distribuição, mas também de valores tais como sustentabilidade e baixo risco para a saúde e o meio ambiente."

O estudo deve determinar o risco relativo entre combustíveis fósseis e biocombustíveis no que se refere a emissões atmosféricas utilizando dois poluentes como medida de toxicidade: partículas atmosféricas e ozônio. A comparação das emissões dos biocombustíveis, em termos de poluentes diretos e potencial de formação de ozônio, é um tema importante para o País e gera interesse no mundo todo. Em alguns casos como o do etanol, metrópoles brasileiras são um "laboratório natural" para essa abordagem. No caso do biodiesel, a decisão governamental de implantar tal combustível em grande escala indica a necessidade de aferir sua toxicidade, especialmente com relação à potencial formação de ozônio.

A proposta leva em conta algumas situações relevantes como emissões resultantes de queima da cana, poluição urbana de São Paulo e emissões de diesel, biodiesel, etanol e gasolina de veículos. A quantificação de efeitos será através de estudos epidemiológicos, exposição controlada em humanos, estudos em animais e modelos toxicológicos in vitro.

O diesel é de longe o grande vilão da saúde em São Paulo. Além de altamente poluente, responde ainda por 32,6% de gases que causam o aquecimento global na cidade de São Paulo. Enquanto a gasolina e outros combustíveis usados pela frota paulistana de 6 milhões de veículos emite anualmente 3,83 milhões de toneladas de dióxido de carbono ou seu equivalente em outros gases estufa, o diesel, com uma frota de apenas 400 mil veículos emite 3,5 milhões de toneladas.

Saldiva calcula que os cerca de 18 mil ônibus que passaram a receber diesel com 50 partes por milhão de enxofre (eram 500 ppm até 31 de dezembro) vão contribuir com uma redução de 0,45% na poluição paulistana. Ele reconhece que o impacto favorável nos corredores de ônibus e no entorno será importante, mas no conjunto da cidade ainda representa muito pouco. Sem a tecnologia adequada, a redução de emissão nesses ônibus será de apenas 10%.

A pesquisa, chamada de Análise Integrada de Risco Ambiental, conta com verba de R$ 7,2 milhões, provenientes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estrado de São Paulo (Fapesp).

Fonte: DiárioNet DiárioNet
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